Publicada em 17/8/2019
O ROCAMBOLESCO SIMULADO DE EMERGÊNCIA COM BARRAGENS EM ITABIRA
Por: Fernando Silva
E, cá pra nós, pintou uma dúvida: o que é rocambolesco? Não sei. No dicionário Aurélio é o nome das aventuras de Rocambole, um personagem do escritor francês Ponson du Terrail(Pierre Alexis). E só. Prefiro, então, substituir rocambolesco por estapafúrdio. Bizarro até cairia melhor nesse contexto.
Mas, pouco importa o adjetivo. Hoje é dia da esquisitice pomposamente chamada “simulado de emergência com barragem”. A coisa é um exótico aparato para azucrinar a paciência de grande parcela da população. No fundo, uma inutilidade para encantar idiotas úteis, como diria a grande estrela da nova imbecilidade tupiniquim.
Alguns “instrutores”- que só concedem entrevistas à Rede Globo de Televisão- prometem roubar a cena na terra de Drummond. Os especialistas na arte da sobrevivência ensinarão técnicas para se safar de possíveis rompimentos de barragens. A imprensa informa, com a devida empáfia: 19 mil pessoas participarão da parafernália social. A estrovenga, porém, atingirá o saco de 50 mil itabiranos, no mínimo. Um verdadeiro tiro “naquele lugar”.
E aqui vem, de tão óbvia, a inevitável pergunta: por que, só agora, a Vale se preocupa com a segurança dos moradores das proximidades das estruturas lamacentas? Esse tipo de ação prévia teria evitado o massacre de Brumadinho, por exemplo? Creio que não. Simulado algum garante sobrevida de quem se encontre na rota do material de uma barragem rompida.
A catástrofe ocorre numa questão de segundos. A velocidade da enxurrada de rejeitos atinge 80 km/h. E, nessa circunstância, não sobra tempo hábil para raciocínio lógico. Na hora do “pega pra capar”, nenhum filho de Deus consegue rememorar teorias de escapamentos. Não há rotas de fuga que segurem a onda de desespero. O salve-se quem puder prevalece nesses momentos de pânico.
Na realidade, o esdrúxulo treinamento tem uma única serventia: purificar a imagem da Vale. É uma operação de “limpeza de barra”. O Brasil vive a era das lavagens. Esse, portanto, é um momento oportuno para a higienização do visual da mineradora, mais sujo que poleiros de habitantes de galinheiros.
Tenho, porém, uma opinião positiva nessa encenação toda: as barragens de Itabira são as mais seguras do país. Explico o motivo de minha convicção. Os depósitos de contenção de rejeitos da terra do Poeta foram construídos por profissionais da velha Cia Vale do Rio Doce (CVRD). Eram técnicos de reconhecida competência.
E eu não apostaria um dólar furado na integridade das barragens de Mariana e Brumadinho. A Samarco (em Mariana) mantém administração e equipe técnica independentes. A multinacional de Pindorama (a Vale) só pagou o pato de Bento Rodrigues porque é acionista majoritária do empreendimento (junto com a australiana BHP Billiton). Logo, tem responsabilidade legal sobre o conjunto da obra.
A antiga CVRD também comprou- “com as porteiras fechadas”- a mina Córrego do Feijão. Esse complexo minerário pertencia à Ferteco Mineração (uma empresa alemã). A barragem putrificada de Brumadinho, portanto, não é uma realização da Vale. A mineradora brasileira herdou mais essa encrenca.
Conclusão: a ganância e ânsia de monopólio costumam cobrar um elevado preço. E essa situação piora muito mais quando vidas humanas (e animais) entram na fatura.
PS1: Note bem: Se uma barragem de Itabira vazar e você perder a vida, a culpa é exclusivamente sua. Afinal, você só morrerá porque não foi um eficiente aluno do simulado de emergência.
PS 2: Noves fora a brincadeira do título, rocambolesco significa confuso, uma aventura inverossímil. Tudo a ver com a peça teatral encenada hoje.
Por: Fernando Silva
E, cá pra nós, pintou uma dúvida: o que é rocambolesco? Não sei. No dicionário Aurélio é o nome das aventuras de Rocambole, um personagem do escritor francês Ponson du Terrail(Pierre Alexis). E só. Prefiro, então, substituir rocambolesco por estapafúrdio. Bizarro até cairia melhor nesse contexto.
Mas, pouco importa o adjetivo. Hoje é dia da esquisitice pomposamente chamada “simulado de emergência com barragem”. A coisa é um exótico aparato para azucrinar a paciência de grande parcela da população. No fundo, uma inutilidade para encantar idiotas úteis, como diria a grande estrela da nova imbecilidade tupiniquim.
Alguns “instrutores”- que só concedem entrevistas à Rede Globo de Televisão- prometem roubar a cena na terra de Drummond. Os especialistas na arte da sobrevivência ensinarão técnicas para se safar de possíveis rompimentos de barragens. A imprensa informa, com a devida empáfia: 19 mil pessoas participarão da parafernália social. A estrovenga, porém, atingirá o saco de 50 mil itabiranos, no mínimo. Um verdadeiro tiro “naquele lugar”.
E aqui vem, de tão óbvia, a inevitável pergunta: por que, só agora, a Vale se preocupa com a segurança dos moradores das proximidades das estruturas lamacentas? Esse tipo de ação prévia teria evitado o massacre de Brumadinho, por exemplo? Creio que não. Simulado algum garante sobrevida de quem se encontre na rota do material de uma barragem rompida.
A catástrofe ocorre numa questão de segundos. A velocidade da enxurrada de rejeitos atinge 80 km/h. E, nessa circunstância, não sobra tempo hábil para raciocínio lógico. Na hora do “pega pra capar”, nenhum filho de Deus consegue rememorar teorias de escapamentos. Não há rotas de fuga que segurem a onda de desespero. O salve-se quem puder prevalece nesses momentos de pânico.
Na realidade, o esdrúxulo treinamento tem uma única serventia: purificar a imagem da Vale. É uma operação de “limpeza de barra”. O Brasil vive a era das lavagens. Esse, portanto, é um momento oportuno para a higienização do visual da mineradora, mais sujo que poleiros de habitantes de galinheiros.
Tenho, porém, uma opinião positiva nessa encenação toda: as barragens de Itabira são as mais seguras do país. Explico o motivo de minha convicção. Os depósitos de contenção de rejeitos da terra do Poeta foram construídos por profissionais da velha Cia Vale do Rio Doce (CVRD). Eram técnicos de reconhecida competência.
E eu não apostaria um dólar furado na integridade das barragens de Mariana e Brumadinho. A Samarco (em Mariana) mantém administração e equipe técnica independentes. A multinacional de Pindorama (a Vale) só pagou o pato de Bento Rodrigues porque é acionista majoritária do empreendimento (junto com a australiana BHP Billiton). Logo, tem responsabilidade legal sobre o conjunto da obra.
A antiga CVRD também comprou- “com as porteiras fechadas”- a mina Córrego do Feijão. Esse complexo minerário pertencia à Ferteco Mineração (uma empresa alemã). A barragem putrificada de Brumadinho, portanto, não é uma realização da Vale. A mineradora brasileira herdou mais essa encrenca.
Conclusão: a ganância e ânsia de monopólio costumam cobrar um elevado preço. E essa situação piora muito mais quando vidas humanas (e animais) entram na fatura.
PS1: Note bem: Se uma barragem de Itabira vazar e você perder a vida, a culpa é exclusivamente sua. Afinal, você só morrerá porque não foi um eficiente aluno do simulado de emergência.
PS 2: Noves fora a brincadeira do título, rocambolesco significa confuso, uma aventura inverossímil. Tudo a ver com a peça teatral encenada hoje.