Publicada em 22/8/2020
A CLOROQUINA “CUROU UM”, MAS NÃO IMPEDIU A MORTE DE CEM MIL BRASILEIROS
*Por: Fernando Silva
No princípio era a cloroquina. Não havia mais nada. E Fiat Lux. A panaceia virou a solução para todas as mazelas da humanidade. Foi um tiro na mosca da maior tragédia sanitária de todos os tempos. A saga da droga começou com o microbiologista francês Didier Raoult. Um homenzarrão com longos cabelos levemente brancos e desarranjados. A carranca sombria mal disfarça a intensidade da arrogância. Tal personagem mais se assemelha ao típico cientista louco de filmes da Sessão da Tarde.
Didier entrou em cena na era pré- empilhamento de cadáveres. A pandemia ainda era epidemia. O médico apresentou ao mundo a “solução” para a encrenca macabra em gestação. Era janeiro. A figura exótica subiu à torre Eiffel. E, lá do alto, ergueu a mão direita com uma caixinha vermelha, azul, amarela e branca. Fez pose de He-Man e berrou para Paris inteira ouvir: “eu tenho a cloroquina”.
O remédio é eficiente no tratamento de malária e lúpus. E só. Ninguém levou a sério a lengalenga do novo professor Pardal. Raoult, porém, peitou a comunidade científica internacional e insistiu em trafegar na contramão de renomados pesquisadores. Os experts em saúde garantem que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Mas a trama não acabou aqui. Alguns dos grandes atores da política mundial assumiram o papel de garotos- propaganda da heterodoxia científica.
Donaldo Trump foi o principal deles. O americano minimizou a tragédia que despontava perigosamente na linha do horizonte. A Universidade de Washington até alertou para a real dimensão da encomenda macabra. A luz amarela acendeu bem no início da tragédia.
O quadro, então, era de surto na província chinesa de Hubei. Mas, o aviso foi em vão. O bufão republicano preferiu flertar com o azar. “Essa coisa não passa de histeria de certa imprensa esquerdista”, vociferava Donald, o Trump, não o simpático pato da Disneylândia. O yankee da juba russa simplesmente embarcou na canoa furada de Didier Raoul. E deu no que deu. A prescrição da cloroquina não colou.
Consequência da inconsequência trumpista: os Estados Unidos se transformaram no maior colecionador de defuntos do planeta. Com o tempo, porém, a ficha do “homem mais poderoso do universo” despencou. Como num passe de mágica, a cloroquina desapareceu do discurso do dono das terras de Tio Sam. Por lá, não se fala mais na droga encantada, há muito tempo. Hoje, só os vira- latas da periferia do planeta continuam louvando as “maravilhas” da cloroquina.
O bastão da bajulação medicamentosa caiu como uma luva no colo de Jair Bolsonaro. E o bufão latino não perdeu tempo. Mas, atenção: o atual morador do Palácio da Alvorada entende menos de medicina que as benzedeiras de Ipoema. Ainda assim, o “mito” não se cansa de vangloriar a improvável eficácia da cloroquina na luta contra o novo coronavírus.
O Ministério da Saúde autorizou a importação de 500 quilos do sal difosfato, a matéria- prima para fabricação do medicamento. Os médicos brasileiros até já podem receitá-la à vontade. O fármaco está disponível no eficiente Sistema Único de Saúde (SUS).
Ato contínuo do macabro script: Jair Bolsonaro foi contaminado pelo coronavírus. Era previsível. O capitão se esforçou pra contrair a doença. A infestação do “pulguento” periférico foi motivo de chacota no mundo inteiro. A enfermidade, porém, foi o máximo para o mandatário. Jair aproveitou o evento patológico para empanturrar-se de cloroquina. E bingo. O milico “enpijamado” se recuperou. Ninguém sabe como e nem porquê. E ironia das ironias: para o chefe de Estado botocudo tudo não passou de uma mera gripezinha. Ponto para os adoradores da panaceia.
Enquanto isso, cem mil brasileiros perderam a vida. Mas, afinal, de quem é a culpa por tamanha mortandade? Dos médicos, que não prescreveram a cloroquina para os pacientes? A imprevidência fatal talvez tenha sido dos infectados. Claro, eles não acataram as “sábias” orientações do Messias bananeiro.
Melhor mesmo é acreditar que Deus abriu mão de sua cidadania tupiniquim. A cloroquina, porém, foi seletiva e preconceituosa: afinal, ela curou o presidente Jair Bolsonaro, mas não preservou a vida de mais de cem mil brasileiros. Definitivamente, Deus deixou de ser brasileiro.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NotíciasUai.
*Por: Fernando Silva
No princípio era a cloroquina. Não havia mais nada. E Fiat Lux. A panaceia virou a solução para todas as mazelas da humanidade. Foi um tiro na mosca da maior tragédia sanitária de todos os tempos. A saga da droga começou com o microbiologista francês Didier Raoult. Um homenzarrão com longos cabelos levemente brancos e desarranjados. A carranca sombria mal disfarça a intensidade da arrogância. Tal personagem mais se assemelha ao típico cientista louco de filmes da Sessão da Tarde.
Didier entrou em cena na era pré- empilhamento de cadáveres. A pandemia ainda era epidemia. O médico apresentou ao mundo a “solução” para a encrenca macabra em gestação. Era janeiro. A figura exótica subiu à torre Eiffel. E, lá do alto, ergueu a mão direita com uma caixinha vermelha, azul, amarela e branca. Fez pose de He-Man e berrou para Paris inteira ouvir: “eu tenho a cloroquina”.
O remédio é eficiente no tratamento de malária e lúpus. E só. Ninguém levou a sério a lengalenga do novo professor Pardal. Raoult, porém, peitou a comunidade científica internacional e insistiu em trafegar na contramão de renomados pesquisadores. Os experts em saúde garantem que a hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada contra a Covid-19.
Mas a trama não acabou aqui. Alguns dos grandes atores da política mundial assumiram o papel de garotos- propaganda da heterodoxia científica.
Donaldo Trump foi o principal deles. O americano minimizou a tragédia que despontava perigosamente na linha do horizonte. A Universidade de Washington até alertou para a real dimensão da encomenda macabra. A luz amarela acendeu bem no início da tragédia.
O quadro, então, era de surto na província chinesa de Hubei. Mas, o aviso foi em vão. O bufão republicano preferiu flertar com o azar. “Essa coisa não passa de histeria de certa imprensa esquerdista”, vociferava Donald, o Trump, não o simpático pato da Disneylândia. O yankee da juba russa simplesmente embarcou na canoa furada de Didier Raoul. E deu no que deu. A prescrição da cloroquina não colou.
Consequência da inconsequência trumpista: os Estados Unidos se transformaram no maior colecionador de defuntos do planeta. Com o tempo, porém, a ficha do “homem mais poderoso do universo” despencou. Como num passe de mágica, a cloroquina desapareceu do discurso do dono das terras de Tio Sam. Por lá, não se fala mais na droga encantada, há muito tempo. Hoje, só os vira- latas da periferia do planeta continuam louvando as “maravilhas” da cloroquina.
O bastão da bajulação medicamentosa caiu como uma luva no colo de Jair Bolsonaro. E o bufão latino não perdeu tempo. Mas, atenção: o atual morador do Palácio da Alvorada entende menos de medicina que as benzedeiras de Ipoema. Ainda assim, o “mito” não se cansa de vangloriar a improvável eficácia da cloroquina na luta contra o novo coronavírus.
O Ministério da Saúde autorizou a importação de 500 quilos do sal difosfato, a matéria- prima para fabricação do medicamento. Os médicos brasileiros até já podem receitá-la à vontade. O fármaco está disponível no eficiente Sistema Único de Saúde (SUS).
Ato contínuo do macabro script: Jair Bolsonaro foi contaminado pelo coronavírus. Era previsível. O capitão se esforçou pra contrair a doença. A infestação do “pulguento” periférico foi motivo de chacota no mundo inteiro. A enfermidade, porém, foi o máximo para o mandatário. Jair aproveitou o evento patológico para empanturrar-se de cloroquina. E bingo. O milico “enpijamado” se recuperou. Ninguém sabe como e nem porquê. E ironia das ironias: para o chefe de Estado botocudo tudo não passou de uma mera gripezinha. Ponto para os adoradores da panaceia.
Enquanto isso, cem mil brasileiros perderam a vida. Mas, afinal, de quem é a culpa por tamanha mortandade? Dos médicos, que não prescreveram a cloroquina para os pacientes? A imprevidência fatal talvez tenha sido dos infectados. Claro, eles não acataram as “sábias” orientações do Messias bananeiro.
Melhor mesmo é acreditar que Deus abriu mão de sua cidadania tupiniquim. A cloroquina, porém, foi seletiva e preconceituosa: afinal, ela curou o presidente Jair Bolsonaro, mas não preservou a vida de mais de cem mil brasileiros. Definitivamente, Deus deixou de ser brasileiro.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NotíciasUai.