Publicada em 18/4/2020
À PROCURA DO PICO PERDIDO
Por: Fernando Silva
O pico do Itacolomi de Ouro Preto é um ícone da história de Minas Gerais. A corrida do ouro começou com o descobrimento desse acidente geográfico, no final do século XVII.
Na ocasião, um grupo de aventureiros paulistas se embrenhou na inóspita região do atual Quadrilátero Ferrífero mineiro. A localidade era protegida por imensas montanhas e densas florestas. Caudalosos rios cortavam a área. Apenas algumas tribos indígenas conseguiam sobreviver nesses confins. Era muito difícil adentrar aqueles sertões ermos.
Em determinada encosta, os forasteiros descobriram pepitas do precioso mineral, no leito de cristalino riacho. Mas os exploradores estavam literalmente perdidos. Não tinham a mais remota informação sobre aquele sítio promissor.
Retornaram à Pauliceia com uma referência na memória: um pico exótico formado por duas rochas pontiagudas: uma maior ao lado de outra pequena. Os escassos moradores da região (índios) arrumaram um romântico apelido para a inusitada formação geológica: Itacolomi. O termo, na língua tupi, significa mãe e filho. Era uma menção familiar ao formato do estranho cume.
A notícia da descoberta do mineral precioso provocou alvoroço na capitania de São Paulo. Centenas de desbravadores tomaram o rumo das imponentes cordilheiras (as alterosas). Os aventureiros partiram em busca do emblemático Itacolomi. Sabiam que essa referência era sinônimo de riqueza.
Muitos bandeirantes perambularam por entre serras e matagais, durante um longo período. E nada da cobiçada elevação pintar na linha do horizonte. A narrativa mais parecia uma das lendas do Brasil colônia. O Itacolomi seria uma mera manifestação fantasmagórica? Uma ilusão de ótica? Até que não. O desaparecimento do pico tinha uma explicação climática: na maior parte do tempo, ele permanecia encoberto por densa cerração, fenômeno ainda comum nos dias de hoje.
No final dos anos 1600, uma enigmática pergunta ecoava nas montanhas de Minas Gerais: cadê o Pico do Itacolomi? Eureca! A bandeira de Antônio Dias de Oliveira deu de cara com a esperança dourada (o Itacolomi), numa ensolarada manhã de 24 de junho de 1698. Essa data (dia de São João) determinou o descobrimento de Ouro Preto e o início da exploração mineral em terras de Minas.
Esse relato de antigamente é uma metáfora para os acontecimentos dos dias atuais. O mundo vive momentos de sofrimento, angústia e incerteza. Quase todos os países repetem a emblemática indagação de há pouco mais de 300 anos: onde está o pico da pandemia do Coronavírus? Europeus, americanos e asiáticos contabilizam cadáveres e buscam desesperadamente pelo cume da grave crise sanitária(ou o início do fim). O encontro do platô (o ápice da contaminação) provocará a mesma euforia do descobrimento do ouro das Minas Gerais.
O decréscimo no número de contaminados é o tesouro tão ambicionado por toda a humanidade. Itália, França, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil sonham encontrar o tão procurado pico, numa encantadora manhã qualquer. Pode ser no dia de São João, mas que não seja o de “são nunca.” Enquanto isso, o planeta inteiro indaga: cadê o pico?
PS1: Ouro Preto e Mariana adoram discussões típicas de vizinhos. Os dois municípios vivem às turras como velhas comadres fofoqueiras. O passatempo é a troca de insultos. O Pico do Itacolomi está na divisa das duas cidades. Numa ocasião, o povo marianense garantiu que o Itacolomi era patrimônio da primeira capital de Minas Gerais. Os moradores do outro lado da montanha protestaram. E uma pendenga danada começou. Afinal, o Itacolomi era de Ouro Preto ou Mariana? A polêmica parecia não ter fim. O bate- boca Já durava anos. Até que Angelo Oswaldo, prefeito da velha Vila Rica, resolveu botar um ponto final na conversa fiada. O político ouro-pretano mandou o seguinte recado para o povo de Mariana: “eu desisto, o pico é de vocês. Pode levá-lo para pra sua cidade”.
PS2: Na terça-feira (14/04), o energúmeno Donald Trump cortou o repasse da ajuda financeira dos EUA à Organização Mundial da Saúde (OMS). Confira o troco: 2560 americanos morreram 24 horas depois do anúncio de Trump. Foi o maior número de mortos em apenas um dia, desde o início da pandemia, num único país. O Coronavírus continua dando duros recados à humanidade. Só não vê isso quem não quer.
Por: Fernando Silva
O pico do Itacolomi de Ouro Preto é um ícone da história de Minas Gerais. A corrida do ouro começou com o descobrimento desse acidente geográfico, no final do século XVII.
Na ocasião, um grupo de aventureiros paulistas se embrenhou na inóspita região do atual Quadrilátero Ferrífero mineiro. A localidade era protegida por imensas montanhas e densas florestas. Caudalosos rios cortavam a área. Apenas algumas tribos indígenas conseguiam sobreviver nesses confins. Era muito difícil adentrar aqueles sertões ermos.
Em determinada encosta, os forasteiros descobriram pepitas do precioso mineral, no leito de cristalino riacho. Mas os exploradores estavam literalmente perdidos. Não tinham a mais remota informação sobre aquele sítio promissor.
Retornaram à Pauliceia com uma referência na memória: um pico exótico formado por duas rochas pontiagudas: uma maior ao lado de outra pequena. Os escassos moradores da região (índios) arrumaram um romântico apelido para a inusitada formação geológica: Itacolomi. O termo, na língua tupi, significa mãe e filho. Era uma menção familiar ao formato do estranho cume.
A notícia da descoberta do mineral precioso provocou alvoroço na capitania de São Paulo. Centenas de desbravadores tomaram o rumo das imponentes cordilheiras (as alterosas). Os aventureiros partiram em busca do emblemático Itacolomi. Sabiam que essa referência era sinônimo de riqueza.
Muitos bandeirantes perambularam por entre serras e matagais, durante um longo período. E nada da cobiçada elevação pintar na linha do horizonte. A narrativa mais parecia uma das lendas do Brasil colônia. O Itacolomi seria uma mera manifestação fantasmagórica? Uma ilusão de ótica? Até que não. O desaparecimento do pico tinha uma explicação climática: na maior parte do tempo, ele permanecia encoberto por densa cerração, fenômeno ainda comum nos dias de hoje.
No final dos anos 1600, uma enigmática pergunta ecoava nas montanhas de Minas Gerais: cadê o Pico do Itacolomi? Eureca! A bandeira de Antônio Dias de Oliveira deu de cara com a esperança dourada (o Itacolomi), numa ensolarada manhã de 24 de junho de 1698. Essa data (dia de São João) determinou o descobrimento de Ouro Preto e o início da exploração mineral em terras de Minas.
Esse relato de antigamente é uma metáfora para os acontecimentos dos dias atuais. O mundo vive momentos de sofrimento, angústia e incerteza. Quase todos os países repetem a emblemática indagação de há pouco mais de 300 anos: onde está o pico da pandemia do Coronavírus? Europeus, americanos e asiáticos contabilizam cadáveres e buscam desesperadamente pelo cume da grave crise sanitária(ou o início do fim). O encontro do platô (o ápice da contaminação) provocará a mesma euforia do descobrimento do ouro das Minas Gerais.
O decréscimo no número de contaminados é o tesouro tão ambicionado por toda a humanidade. Itália, França, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos e Brasil sonham encontrar o tão procurado pico, numa encantadora manhã qualquer. Pode ser no dia de São João, mas que não seja o de “são nunca.” Enquanto isso, o planeta inteiro indaga: cadê o pico?
PS1: Ouro Preto e Mariana adoram discussões típicas de vizinhos. Os dois municípios vivem às turras como velhas comadres fofoqueiras. O passatempo é a troca de insultos. O Pico do Itacolomi está na divisa das duas cidades. Numa ocasião, o povo marianense garantiu que o Itacolomi era patrimônio da primeira capital de Minas Gerais. Os moradores do outro lado da montanha protestaram. E uma pendenga danada começou. Afinal, o Itacolomi era de Ouro Preto ou Mariana? A polêmica parecia não ter fim. O bate- boca Já durava anos. Até que Angelo Oswaldo, prefeito da velha Vila Rica, resolveu botar um ponto final na conversa fiada. O político ouro-pretano mandou o seguinte recado para o povo de Mariana: “eu desisto, o pico é de vocês. Pode levá-lo para pra sua cidade”.
PS2: Na terça-feira (14/04), o energúmeno Donald Trump cortou o repasse da ajuda financeira dos EUA à Organização Mundial da Saúde (OMS). Confira o troco: 2560 americanos morreram 24 horas depois do anúncio de Trump. Foi o maior número de mortos em apenas um dia, desde o início da pandemia, num único país. O Coronavírus continua dando duros recados à humanidade. Só não vê isso quem não quer.