Publicada em 16/11/2019
QUANDO A POLÍTICA SE TRANSFORMA EM COMÉDIA
Por: Fernando Silva
Alguns políticos têm talento natural para a ironia e marcante presença de espírito. São rápidos no gatilho da retórica. Em Minas Gerais, havia duas raposas com notória especialização na arte do embate com malícia: Tancredo Neves (1910-1985) e Magalhães Pinto (1909- 1996).
Esses personagens eram antítese em tudo. Além de ferrenhos adversários, detestavam-se pessoalmente. Em público, porém, se comportavam como atores de primeira. Quando se encontravam, principalmente em presença de testemunhas, iniciavam um mútuo processo de “rasgar seda”.
Um dia, os dois deram de cara no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Tancredo e um assessor chegavam de Brasília. Magalhães embarcaria para o Rio de Janeiro. Os políticos trocaram um forte (e falso) abraço e começaram as costumeiras “mesuras”:
- Que satisfação lhe ver, dr Tancredo. O senhor está com uma expressão maravilhosa, comentou Magalhães.
Tancredo devolveu, sem pestanejar:
_ Dr Magalhães, o senhor está muito jovial e saudável. A sua boa saúde é de extrema importância para Minas Gerais, retribuiu um sorridente Tancredo.
-E o amigo está vindo de onde? Quis saber Magalhães Pinto
- Acabei de chegar de Brasília, respondeu Neves, que indagou:
- E o nobre dr Magalhães está indo para que lugar?
_ Vou ao Rio de Janeiro. Tenho um compromisso pessoal por lá
Depois desse rápido diálogo, se despediram calorosamente e cada um seguiu o seu rumo. Tancredo, então, com muita tranquilidade, revelou um enigma para o seu acompanhante:
- Veja só que curioso. Magalhães Pinto pensa que é muito esperto, mas não me engana de jeito nenhum. Disse-me que está indo para o Rio só para que eu pense que ele irá a Brasília. Mas, na verdade, Magalhães viajou foi para o Rio mesmo.
O primeiro- ministro inglês Winston Churchill, herói da Segunda Guerra Mundial, tinha fama de parvo. Adorava navegar num copo de uísque. O charuto e uma surrada cartola eram suas inseparáveis companhias do cotidiano. O político britânico, porém, era mordaz e tinha um raciocínio pra lá de rápido.
Numa ocasião, ele tentava fazer um discurso, mas era insistentemente interrompido por uma mulher, bastante agitada. Mal o premier abria a boca e a distinta o atropelava:
- Sir Churchill, o senhor não presta. O senhor não passa de um canalha!
Winston fazia uma pausa. Tentava retomar o tema, mas novamente era impedido.
- Churchill, o senhor é beberrão e mau caráter.
E o monótono roteiro parecia não ter fim. Até que a desesperada senhora disparou:
Eu tenho ódio do senhor, Winston Churchill. Eu lhe detesto. Se o senhor fosse meu marido, eu daria um copo de veneno para o senhor beber.
O primeiro- ministro deu um largo sorriso e respondeu calmamente:
Minha senhora, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse copo de veneno com muita satisfação.
O jornal O Binômio foi uma criação dos jornalistas José Maria Rabelo e Euro Arantes. O órgão de imprensa circulou de 1952 a 1964, quando foi empastelado pela ditadura militar. A publicação era pura irreverência e adorava pegar no pé do presidente Juscelino Kubitschek (JK). Determinada época, Kubitschek foi a Araxá em companhia do empresário Joaquim Rolla. O Binômio não deixou escapar a oportunidade e chegou às bancas com a bombástica manchete: “JK foi a Araxá e levou Rolla”. Juscelino, um democrata muito bem humorado, jamais se importou com as alfinetadas do periódico.
Por: Fernando Silva
Alguns políticos têm talento natural para a ironia e marcante presença de espírito. São rápidos no gatilho da retórica. Em Minas Gerais, havia duas raposas com notória especialização na arte do embate com malícia: Tancredo Neves (1910-1985) e Magalhães Pinto (1909- 1996).
Esses personagens eram antítese em tudo. Além de ferrenhos adversários, detestavam-se pessoalmente. Em público, porém, se comportavam como atores de primeira. Quando se encontravam, principalmente em presença de testemunhas, iniciavam um mútuo processo de “rasgar seda”.
Um dia, os dois deram de cara no aeroporto da Pampulha, em Belo Horizonte. Tancredo e um assessor chegavam de Brasília. Magalhães embarcaria para o Rio de Janeiro. Os políticos trocaram um forte (e falso) abraço e começaram as costumeiras “mesuras”:
- Que satisfação lhe ver, dr Tancredo. O senhor está com uma expressão maravilhosa, comentou Magalhães.
Tancredo devolveu, sem pestanejar:
_ Dr Magalhães, o senhor está muito jovial e saudável. A sua boa saúde é de extrema importância para Minas Gerais, retribuiu um sorridente Tancredo.
-E o amigo está vindo de onde? Quis saber Magalhães Pinto
- Acabei de chegar de Brasília, respondeu Neves, que indagou:
- E o nobre dr Magalhães está indo para que lugar?
_ Vou ao Rio de Janeiro. Tenho um compromisso pessoal por lá
Depois desse rápido diálogo, se despediram calorosamente e cada um seguiu o seu rumo. Tancredo, então, com muita tranquilidade, revelou um enigma para o seu acompanhante:
- Veja só que curioso. Magalhães Pinto pensa que é muito esperto, mas não me engana de jeito nenhum. Disse-me que está indo para o Rio só para que eu pense que ele irá a Brasília. Mas, na verdade, Magalhães viajou foi para o Rio mesmo.
O primeiro- ministro inglês Winston Churchill, herói da Segunda Guerra Mundial, tinha fama de parvo. Adorava navegar num copo de uísque. O charuto e uma surrada cartola eram suas inseparáveis companhias do cotidiano. O político britânico, porém, era mordaz e tinha um raciocínio pra lá de rápido.
Numa ocasião, ele tentava fazer um discurso, mas era insistentemente interrompido por uma mulher, bastante agitada. Mal o premier abria a boca e a distinta o atropelava:
- Sir Churchill, o senhor não presta. O senhor não passa de um canalha!
Winston fazia uma pausa. Tentava retomar o tema, mas novamente era impedido.
- Churchill, o senhor é beberrão e mau caráter.
E o monótono roteiro parecia não ter fim. Até que a desesperada senhora disparou:
Eu tenho ódio do senhor, Winston Churchill. Eu lhe detesto. Se o senhor fosse meu marido, eu daria um copo de veneno para o senhor beber.
O primeiro- ministro deu um largo sorriso e respondeu calmamente:
Minha senhora, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse copo de veneno com muita satisfação.
O jornal O Binômio foi uma criação dos jornalistas José Maria Rabelo e Euro Arantes. O órgão de imprensa circulou de 1952 a 1964, quando foi empastelado pela ditadura militar. A publicação era pura irreverência e adorava pegar no pé do presidente Juscelino Kubitschek (JK). Determinada época, Kubitschek foi a Araxá em companhia do empresário Joaquim Rolla. O Binômio não deixou escapar a oportunidade e chegou às bancas com a bombástica manchete: “JK foi a Araxá e levou Rolla”. Juscelino, um democrata muito bem humorado, jamais se importou com as alfinetadas do periódico.